segunda-feira, 13 de junho de 2016

Um "melhor amigo" para melhorar a saúde

Os animais e a saúde do homem

Os estudos sobre a relação entre homens e animal apenas foram reconhecidos no meio académico norte-americano por volta de 1970/80, quando foram criadas as sociedades científicas que realizaram as primeiras conferências e onde foram publicados os primeiros artigos a abordarem temáticas como por exemplo “Os animais e as crianças”, “Os animais e a Saúde”, entre outros.

Desde então que existe um crescente interesse no meio científico no estudo do vínculo existente entre humanos e animais, devido em grande parte ao elevado número de pessoas com animais de estimação. Só nos EUA existem mais de 68 milhões de cães e 75 milhões de gatos, sendo gasto anualmente em média cerca de 30 biliões de dólares com os animais de estimação.


Mas que vínculo existente é este? Que relação é esta que se estabelece entre “donos” e animais?

Os “donos” de animais de estimação consideram-nos membros da família e eu atrevo-me a considerar a relação que se estabelece entre eles como uma relação dinâmica que beneficia ambos, dependendo de comportamentos fulcrais, quer para o bem-estar, quer para a própria saúde, e que inclui interacções ao nível físico, emocional e psicológico – não basta ser “dono” – é necessário passear, brincar, conviver, tratar, acarinhar.

E que benefícios nos podem dar os animais? Penso que, primeiro que tudo, a dádiva da sua companhia e, como em todas as relações, os benefícios só existem se houver afeto. E como se estabelecem essas relações? As emoções dos animais são cruas, sem filtro e sem controlo. A sua alegria é a mais pura e a mais contagiosa de todas e o seu sofrimento o mais profundo e devastador. Formamos relações próximas com os nossos animais de estimação, não só devido às nossas próprias necessidades emocionais, mas também devido ao reconhecimento das necessidades deles.

Se podermos observar interações entre pessoas e os seus cães, por exemplo, podemos observar pormenores minuciosos e subtis de comunicação que ocorrem através da voz e do movimento, reveladoras de uma forte união social recíproca e claramente baseada no respeito e sentimento mútuos. Ambos os seres, humano e canino, partilham uma ligação emocional duradoura que vai muito além do simples treino.

Haverá, então, alguma influência dos animais de estimação na saúde dos donos? Esta tem sido a preocupação dos investigadores, encontrar os mecanismos que explicam os benefícios dos animais para os humanos. A maioria enfatiza os atributos integrantes ou intrínsecos dos animais, que os utiliza para promover alterações na auto-estima e comportamento das pessoas.
Inúmeras investigações têm sido levadas a cabo e uma delas diz respeito à influência dos animais de estimação na pressão arterial dos donos. Colocada a hipótese de que os animais de estimação influenciariam a nossa pressão arterial, foram feitos alguns estudos. Num destes estudos, os sujeitos eram mulheres e a tarefa que teriam de desempenhar consistia em efetuar uma série de cálculos aritméticos em quatro condições distintas: sozinha, na presença da melhor amiga, na presença do cônjuge e na presença do seu cão ou gato. Os resultados foram de que, ao contrário do que se esperava, a pressão arterial oscilou entre os 120/80 a 155/100, quando acompanhados pelo cônjuge, enquanto que na presença do seu cão/gato a pressão arterial manteve-se quase normal, entre os 125/83.

Pensou-se que a explicação para estes resultados fosse o facto de os animais de estimação serem vistos apenas como entretenimento e o stress era eliminado, porque os participantes desistiam da tarefa. Mas não. Não só os participantes não desistiam da tarefa, como o seu desempenho era melhor e mais rápido quando os animais de estimação estavam presentes, do que quando estavam presentes os cônjuges. A explicação para estes resultados parece residir no facto de os participantes saberem que não existia qualquer tipo de julgamento por parte dos seus animais de estimação, ao contrário do que acontecia com o seu melhor amigo e cônjuge. O facto de haver julgamento por parte da melhor amiga e cônjuge cria uma situação de tensão, o que leva a um aumento da pressão arterial. Com os nossos animais de estimação isso não acontece. Sabemos que gostam dos donos de qualquer maneira, saiba ele ou não fazer cálculos aritméticos.

Mas, e não será que é o facto de as pessoas que têm animais de estimação serem à partida mais saudáveis do que aquelas que não os têm?
Para colocar essa hipótese de lado, recorreu-se a pessoas que têm provavelmente a profissão mais stressante: os corretores da Bolsa de Valores. Metade desses participantes não tinham animal de estimação, enquanto que a outra metade adoptou um animal. O que era comum a todos eles era o facto de viverem sozinhos, terem elevados níveis de pressão arterial. Foi adicionado um factor, medicação que diminui os níveis de pressão arterial (mas não quando existe um elevado grau de stress). Metade tinha adoptado um animal de estimação e tomava o medicamento, a outra metade apenas era medicada.
Os resultados, tal como previsto, manifestaram-se na redução da pressão arterial por parte do medicamento em todos os participantes; no entanto, quando estes estavam sob stress, os indivíduos que adoptaram animais de estimação tiveram aumentos da pressão arterial que foram menos de metade dos aumentos dos seus homólogos sem animais de estimação. Estes resultados são a evidência do papel dos animais de estimação na prestação de apoio social.

Além dos benefícios acima mencionados, os animais de estimação também podem ser catalisadores sociais e podem ajudar crianças autistas e socialmente introvertidas (aumento de comportamentos pró-sociais). O termo “terapia animal” foi criado por Boris Levinson e este psicólogo infantil americano descobriu que muitas crianças introvertidas e pouco comunicativas tornavam-se mais extrovertidas e interagiam positivamente se o seu cão, Jingles, se juntasse a eles nas sessões de terapia.

Podemos, no entanto, assinalar alguns pontos menos positivos das relações humano-animal. Na maioria das grandes cidades, as pessoas tendem a estar mais sozinhas, afogadas em trabalho e, por vezes, muitas vivem apenas com o animal, criando com este uma ligação muito acentuada, podendo com frequência, dependendo da forma como se estabelece a relação ou o comportamento do dono, originar comportamentos de ansiedade, a“ansiedade de separação”, em que o dono fica ansioso ao sair de casa, por ficar preocupado com o animal; uma preocupação constante e desmedida sobre como estará o animal.

Em pessoas com dificuldade em estabelecer relações com outros, muitas vezes vêm num animal uma forma mais fácil de estabelecer vínculo, o que pode reforçar comportamentos de isolamento. Concluindo, apesar destas últimas implicações, a verdade é que podemos afirmar, de acordo com inúmeros estudos, que os animais de estimação parecem ter um impacto positivo na pressão arterial dos donos, assim como na saúde em geral, como também podem ser catalisadores de comportamentos pró-sociais.


Por Nádia Costa e Rodrigo Teixeira

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